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A casa na ocupação
do Glória
A casa na ocupação
do Glória
Por Layla Tavares | 29/1/2015
Quem chega a Uberlândia pela BR-050, vindo de Uberaba, percebe que a cidade está crescendo. Um mar de casas sem reboco e de barracos de lona e de madeira compõem a paisagem na margem esquerda da rodovia, na zona sul da cidade. A área é parte da Fazenda do Glória, propriedade da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mas, desde janeiro de 2012, está ocupada por integrantes do Movimento dos Sem-Teto do Brasil (MSTB). Segundo dados do MSTB, cerca de 15 mil pessoas moram no local atualmente.
Uma delas é Minéia, uma tocantinense de 35 anos que desde 2006 está em Uberlândia, para onde veio em busca de mais oportunidades e qualidade de vida. Na cidade mineira, casou-se, teve filhos e descobriu o “movimento” – hoje é uma das coordenadoras do assentamento Elisson Prieto, denominado assim pelos moradores em homenagem ao docente do Instituto de Geografia da UFU, falecido em 2012.
Em meio às ruas de terra da ocupação, as casas de alvenaria já sobressaem aos barracos de lona. Os tijolos são o principal elemento da paisagem, erguidos em terrenos de 10x25 m² que ficam em quadras numeradas. Na casa de Minéia, assim como na maioria das construções do local, não há reboco nas paredes externas. “Fomos priorizando o interior, pensando no nosso conforto”, diz a moradora. Durante os primeiros nove meses na ocupação, de março a novembro de 2012, Minéia, o marido e os três filhos moraram em um barraco. “O calor na lona era insuportável. Tive que matricular os meus filhos no turno da tarde, para que quando chegassem da escola o tempo já estivesse mais fresco. Foi um tempo de sofrimento, mas foi assim que economizamos para conseguir construir nossa casa.”
A ocupação do Glória tem 62 hectares e população estimada de 15 mil habitantes
Antes de se mudarem para a área da UFU, Minéia e a família moravam em uma casa alugada no bairro São Gabriel, também na zona sul de Uberlândia. Foram para a ocupação a convite de uma cunhada, que havia se mudado para lá com os primeiros moradores dois meses antes. Com a economia dos R$ 650 que eram gastos mensalmente em aluguel e com materiais doados, a família ergueu a casa no terreno ocupado na primeira rua do assentamento. “Minha casa foi feita com o lixo da casa dos outros.”
O marido de Minéia é pedreiro e negociava com os patrões para ficar com as sobras das obras e com os materiais que seriam descartados. Reaproveitaram madeiras, janelas, vidros, portas e até móveis. “Nós mesmos planejamos e construímos nossa casa. Meu marido construía nossa casa depois do expediente, muitas vezes até de madrugada. Nos fins de semana nós costumávamos fazer um mutirão com os amigos na obra.”
Minéia ainda quer terminar de rebocar e pintar as paredes externas da casa
A casa, que depois de pronta continua movimentada de amigos, ficou confortável como Minéia queria – tem sala e cozinha conjugadas em um cômodo amplo, três quartos, banheiro, cerâmica no chão, área de serviço e jardim. “Claro que sempre tem alguma coisinha a mais que a gente gostaria de ir mudando. Os planos para 2015 são fazer uma varanda, rebocar as paredes de fora e pintar.”
A incerteza da posse da terra não torna os planos de Minéia distantes de se realizarem. “O sonho é maior que o medo e a insegurança. Penso que no futuro, em cinco ou dez anos, esse bairro vai se assemelhar com o Dom Almir e o Joana D'arc, que também começaram com ocupação de movimentos. Imagino o bairro Élisson Prieto asfaltado, iluminado. Sei que a infraestrutura vai vir, acredito e me esforço para isso.”
A cozinha ampla e conjugada com a sala é um dos destaques da casa
A mudança para a ocupação alterou também a rotina de Minéia. Há oito meses atuando como uma das coordenadoras do assentamento, é requisitada para orientar moradores, auxiliar na pressão ao poder público e nas negociações da posse da terra. A mãe e os irmãos de Minéia também se mudaram para o local e hoje a família vive mais próxima. “A nossa vida aqui e a de algumas pessoas melhorou muito, mas ainda há quem viva do mesmo jeito de quando chegou. Mas não é por medo que as pessoas não melhoram suas casas, na maioria das vezes é mesmo por falta de recursos.”
Enquanto a área não é regularizada, os moradores seguem usando ligações elétricas e de água de forma clandestina, além de serem atendidos pelos equipamentos sociais, como escolas e unidades de saúde, de bairros vizinhos. “Nós queremos pagar pelos terrenos, por nossas contas e impostos”, afirma Minéia. No fim de 2014, a Justiça concedeu ao Conselho Universitário da UFU a suspensão da reintegração de posse da área por oito meses. Enquanto isso, Minéia e os vizinhos reforçam a intenção de ficar. “Ninguém quer sair daqui.”
Ocupação do Glória
(Assentamento Élisson Prieto)
15.000 habitantes
0,62
km²
Fonte: MSTB
Área
Residências
População
2.200
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