A casa antiga

no Martins

A casa antiga

no Martins

Por Layla Tavares | 29/1/2015

Maria Luiza tem 17 anos e mora, desde criança, na casa da avó. O imóvel, situado no bairro Martins, setor central de Uberlândia, foi construído na década de 1950 e, ao longo desse tempo, abrigou mais de 10 pessoas da família. Testemunha de muitas histórias e de mudanças na cidade, a casa onde Maria Luiza mora com a mãe e a avó não é como as das amigas da menina. O quarto da adolescente não tem pôsteres de artistas nem é decorado conforme o gosto dela. Visitas também não são muito frequentes. “Não temos muito espaço”, diz Maria Luiza. Apesar de imaginar como a casa poderia atender melhor suas necessidades, a adolescente sabe que se trata de uma moradia provisória e, por isso, não acredita em grandes modificações ou ampliações. “Nós sabemos que vamos ficar aqui apenas enquanto minha avó também estiver.”

O muro alto e a pintura recente talvez não digam para quem passa pela rua Professor João Basílio que ali está uma construção de quase 65 anos. As reformas, normalmente iniciadas pela avó de Maria Luiza, mantêm a casa de pé e a renovam. Mesmo assim, as intervenções precisam ser feitas com cuidado, já que “quando mexe em um problema costuma aparecer outro”. Foi assim com a parede da sala, que caiu uma parte quando um vizinho fez uma obra ao lado. As paredes também não suportaram a prateleira com os bichinhos de pelúcia de Maria Luiza. “A casa é muito frágil”.

Além do muro, que antigamente era baixo, foram trocados o forro de madeira pelo de PVC e as portas de madeira pelas de metal e vidro. As janelas também não são mais as originais e a disposição dos cômodos mudou: atualmente a casa é dividida em duas. Em uma parte, com sala, banheiro, um quarto e cozinha vive a avó de Maria Luiza. Na outra, a menina e a mãe têm uma sala, um banheiro, cozinha e dois quartos. Também há duas lavanderias na casa, uma varanda e um jardim, cujas flores e couves estão enormes.

Na parte da casa onde Maria Luiza e sua mãe moram, as salas de televisão e a de jantar ocupam o mesmo cômodo, que ainda abriga a pia que seria da cozinha. Fogão, geladeira e demais eletrodomésticos ficam em um cômodo mais adiante, por onde as moradoras passam para chegar aos quartos.

Maria Luiza terminou o ensino médio no ano passado e agora estuda para o vestibular de medicina. Para ela, um quarto com espaço para escrivaninha e estante de livros seria perfeito. “Tento estudar na mesa da sala, mas tem muito barulho. Então, estudo na cama também, mas meu quarto é quente. Os livros eu tenho que acomodar no guarda-roupas, por falta de espaço para uma estante”, afirma. O quarto da adolescente é a passagem para o quarto da mãe, o que limita a privacidade. “Mas nós nos organizamos.”

Mesmo com os espaços por vezes inadequados ao seu dia a dia, Maria Luiza não tem vontade de se mudar por enquanto. Ela gosta de ficar em casa e tem carinho pelo lugar onde mora desde que era pequena. “Eu nunca morei em outro bairro que não o Martins, nem tive vergonha de morar em uma casa antiga. É uma casa diferente e, por mais que tenha coisas que eu não goste, tem o vínculo por ser o lugar onde eu fui criada.”

Apesar de a casa resistir aos anos e às mudanças que já chegam à vizinhança, a jovem moradora tem receio de que o imóvel não dure mais tanto tempo. “Dá pesar de pensar nisso, mas quem vai querer essa casa? No futuro é mais provável que quem compre derrube para construir algo mais moderno, com mais espaço e cômodos maiores.” A vizinhança ainda é composta em sua maioria por idosos, e há casas tão antigas quanto a da família de Maria Luiza, mas a menina tem indícios de que isso pode mudar. “A quantidade de prédios por aqui está aumentando. Antes, dava para ver o pôr do sol daqui de casa, mas construíram dois prédios aqui em frente e acabou tapando a vista.”