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A casa padronizada
no Morumbi
A casa padronizada
no Morumbi
Por Layla Tavares | 29/1/2015
"Tinha gente que ficava feliz. Eu fiquei com raiva”. Foi assim que a diarista Carmen*, 54 anos, começou sua vida na casa própria. A vida de Carmen e a de sua família não cabiam no modelo padrão construído no conjunto habitacional Santa Mônica II, hoje bairro Morumbi, na zona leste de Uberlândia. Ao longo dos últimos 20 anos, a moradora dedicou grande parte de seus esforços à adaptação da residência às suas necessidades. O objetivo agora é conseguir dividir a casa em duas unidades independentes para que uma delas seja alugada e torne-se uma fonte de renda.
Adquirida no fim da década de 1980 por meio de financiamento do Programa de Ação Imediata em Habitação (PAIH), a casa de Carmen está erguida em um terreno de 250 m². O embrião, como era chamado o imóvel de 23 m² entregue depois de três anos da assinatura do contrato de compra, foi bastante alterado desde a mudança. No início, eram apenas um banheiro e um cômodo utilizado como quarto, sala e cozinha. Atualmente, a casa tem três quartos independentes, sala, banheiro, cozinha, área de serviço, quintal e um cômodo de comércio (alugado como residência).
Cearense de nascimento e piauiense de criação, Carmen chegou a Uberlândia em 1984, acompanhando o primeiro marido, que tinha família na cidade. Morou nos bairros Saraiva, Santa Mônica e Planalto antes de se mudar para a primeira casa própria. A expectativa de morar em “casa de laje” e não ter que pagar aluguel era grande. “A casa própria era um sonho. Peguei a senha do governo e esperei três anos até a entrega. Já estava separada do meu primeiro marido, trabalhava em uma mercearia e, além de sustentar meus três filhos, pagava o financiamento e o aluguel.”
Carmen guarda no quintal os materiais para a construção de uma nova casa
Desde que se mudou para a casa financiada, em 1992, os esforços da diarista estão concentrados nas melhorias do imóvel. “Aos poucos fui aumentando a casa. Fui fazendo por minha conta o que achava que seria entregue desde o início.” Quem fazia o serviço era o segundo companheiro de Carmen, que trabalhava como pedreiro. Primeiro, fizeram a divisão entre sala e quarto. Depois, decidiram construir um cômodo de comércio, onde Carmen abriu uma padaria que durou poucos anos. Fizeram também mais dois quartos e uma cozinha.
Agora, Carmen quer fazer mais. O imóvel foi quitado há cerca de 10 anos, após uma proposta do governo, e a diarista, já sem os filhos em casa, criando um neto e separada, quer garantir que ele seja uma fonte de renda. O cômodo comercial há pelo menos cinco anos é alugado como residência. O aluguel de menos de R$ 300 é o recurso mais certo que ela tem todos os meses. “Não tenho coragem de cobrar mais caro.” O plano é construir mais uma casa no terreno, que tem ao todo 12x22 m, para receber mais um aluguel. A planta da casa nova ela desenhou no chão, usando um cabo de vassoura. “Vou fazendo aos poucos. Consegui pagar o pedreiro para fazer a fundação, quando der eu compro mais materiais e continuo a obra.” Os tijolos já estão guardados no quintal.
Bairro Morumbi
18.004 habitantes
3,83
km²
Fonte: IBGE 2010
Área
Residências
População
5.677
O projeto da nova casa de Carmen foi desenhado por ela direto no chão. O alicerce já está pronto
Mas, antes de dar andamento na construção da nova casa, Carmen quer reformar a que mora e o cômodo que já está alugado. “Precisam de manutenção. As janelas estão caindo, a pintura está feia. E quero muito fazer muro e portão.” Também está nos planos dela dividir a casa em duas menores, uma delas para alugar. Além de contar com o aluguel e com o que recebe pelas faxinas que faz de duas a três vezes por semana, Carmen tem um plano para conseguir fazer as intervenções. “Vou vender parte das coisas que tenho em casa, como armário e rack, para juntar o dinheiro para reformar.”
Apesar de tudo o que já fez na casa e dos planos que ainda pretende concretizar, Carmen não descarta deixar de morar naquele lugar. “Sei que pode ficar boa, mas tenho um pouco de desgosto dessa casa.” Os primeiros anos de Morumbi também foram difíceis e contribuíram para esse sentimento. Ela conta que das crianças que cresceram em sua rua, os seus filhos foram dos poucos que passaram dos 20 anos – a maioria morreu por envolvimento com o crime, especialmente o tráfico de drogas. “Melhorou muito, não tenho medo de morar no Morumbi, mas não gosto daqui. Meu sonho é morar no Santa Mônica.”
*Carmen é um nome fictício. A identidade da fonte entrevistada foi preservada.
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